segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Exaltação

Vejo uma imagem que mostra o Terreiro do Paço inundado de gente numa demonstração de protesto contra a austeridade. Aconteceu no sábado dia 29 de Setembro. Como sempre, imagens como esta emocionam-me, imagens de gente que por algumas horas se une com um propósito comum e se sente parte de um todo, mesmo que seja de um todo sofrido. Há um sentimento de união, de partilha e também de alento. Por algumas horas sente-se que é possível o que quer que seja que se procura, que se deseja. Contudo, dura apenas algumas horas porque trata-se apenas e tão só de uma exaltação. Nós os portugueses somos dados a exaltações, deixamo-nos arrebatar pelo calor do momento e nesses momentos vivemos uma eternidade. É como nos reencontros de família ou de colegas em que se promete que nunca mais se voltará a estar tanto tempo sem dar notícias. É como nas promessas que se fazem de" nunca mais" ou "para sempre". Há um absoluto na exaltação que torna impossível a sua manutenção sustentada, seja a nível pessoal seja a nível colectivo. As exaltações são estados bons mas não podem funcionar como o contraponto duma dormência continuada em que a união e o propósito comum são obliterados. A nível individual significa vivermos parcialmente, sem escutarmos as nossas diferentes vozes, os nossos diferentes sentires. Cada parte a puxar para o seu lado e esperando "que seja o que Deus quiser". Colectivamente o fenómeno é o mesmo. Contudo, os momentos de exaltação permitem ver que é possível fazer diferente! Só têm que ser integrados no sistema com carinho e persistência. Deste modo, o calor do momento poderá transformar-se num fogo mais permanente que alimente mais continuadamente as psiques e os povos.

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