sábado, 9 de novembro de 2013

Psicossíntese ou uma resposta à pergunta: Quem sou eu

Quem sou eu, é uma pergunta quase tão antiga quanto a própria humanidade e costuma apresentar-se com outras duas: de onde venho e para onde vou.
Esta capacidade de questionamento é característica da nossa espécie, uma curiosidade sem rival que toca os fundamentos da própria existência. Suscita questões que, a ficarem sem resposta, arriscam uma epidemia de angústia existencial com contornos psicóticos e consequente desestruturação individual e colectiva.
Para tornar a existência possível, criámos ao longo dos tempos as explicações necessárias, as explicações que depois fomos categorizando como espirituais, racionais, irracionais...
Não sei responder às perguntas "de onde venho" e "para onde vou" mas sei responder à pergunta "quem sou". Sei-o experiencialmente e sei que saber experiencialmente é a única maneira de saber e também de conseguir acalmar em parte a angústia existencial, sem alienação. Quem sou? Sou um centro de Consciência e Vontade. Não tenha uma consciência, não tenho uma vontade, eu sou essa Consciência, eu sou essa Vontade. Para além de todos os conteúdos, para além de muitas vontades.
Quando nos questionamos "quem sou eu" e nos focamos em nós mesmos, chegamos inevitavelmente a esta conclusão. E esta conclusão, esta minha conclusão, nada tem de inovador, pois foi afirmada, porque experienciada, por muitos antes de mim que se colocaram esta mesma questão ao longo de milénios de reflexão.
A Psicossíntese, uma teoria psicológica que muito prezo, sugeriu-me a resposta e eu tive e tenho diariamente a oportunidade de a comprovar.
Responder à questão "quem sou" não garante no entanto a resposta às questões "de onde venho" e "para onde vou"; contudo, se eu souber quem sou, estarei em melhor posição para procurar essas respostas. A este respeito, Assagioli disse: " A Psicossíntese apenas conduz até à porta. O resto, é o caminho de cada um."

sábado, 20 de outubro de 2012

Suicídios

Falaram-me num estudo europeu que aponta para um aumento actual do número de suicídios demonstrando uma relação entre suícídio e depressão. Esta é uma relação conhecida mas desta feita na origem da depressão encontra-se a crise económica. Esta também é uma relação conhecida, tal como o provaram o aumento do número de suícidios em outros momentos de crise económica. Senti o habitual silêncio que se instala quando se fala de suicídio, como se algo de inexplicável se instalasse. Creio que é sobretudo o sentimento de impotência que move quem se suicida que é sentido. O sentimento de impotência para fazer face ao desespero, à dor, à falta de esperança, sejam quais forem os motivos que os motivem. Neste caso, parece ser a crise económica. Digo parece porque a crise é o gatilho que motiva a depressão e o consequente acto de lhe pôr fim, mas no fundo é a identificação com um padrão, com um paradigma, com um modo de vida fora do qual não se concebe a existência. E existe vida para além do modelo em que vivemos, muita vida, Vida. O modelo em que vivemos não merece que abdiquemos da nossa vida por não conseguirmos fazer parte dele, sobretudo quando é esse próprio modelo que não consegue suportar as utopias que criou e que alienaram milhões. E quando as utopias que davam sentido à vida sucumbem a depressão instala-se. Deprimir é perder a ligação com a nossa essência, com a nossa capacidade de criar e de nos reinventarmos a cada momento. Se nos conseguirmos ligar a essa essência ganhamos clareza e perspectiva e o desespero, a dor e a falta de esperança tornam-se suportáveis e até ultrapassáveis. É essa ligação, que não é mais do que uma relação connosco mesmos que nos pode pôr em relação com os outros num modelo mais genuíno e gratificante no qual a nossa criatividade é bem vinda e não alienada.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Revolução

Um amigo publicou uma foto na qual se lê: "Bora lá fazer a puta da revolução".
É uma frase curiosa, na qual sinto algo de contraditório. Como se fosse giro fazer uma revolução mas ao mesmo tempo uma chatice, quase uma obrigação. Giro talvez porque a mudança pode ser "divertida", uma chatice porque mudar é difícil.
Vivemos uma época em que se gosta das "coisas giras", em que o prazer imediato tem primazia sobre tudo o resto e em que o esforço parece ser algo a eliminar da equação da vida. E mudar implica esforço.
As revoluções começam em nós  mesmos, nas mudanças que estamos dispostos a fazer nas nossas vidas, mesmo, ou acima de tudo, quando implicam um esforço da nossa parte.
Curiosamente, tenho constatado na minha vida pessoal e profissional que quando as mudanças são desejadas e vividas em consciência, o esforço torna-se menor, por vezes irrelevante, ou senão, bastante suportável.
As revoluções implicam mudar o status quo e acima de tudo não ter medo de se perder o que se tem. Não numa atitude suicida de não ter nada a perder e com a qual tudo é permitido mas numa atitude de confiança na visão que nos sustenta a mudança.
É preciso ter uma visão que faça sentido, para nós e para o colectivo. Uma visão que seja boa para nós e para o colectivo porque se for boa apenas para nós, a prazo deixará de o ser. É essa visão que poderá guiar e sustentar a revolução.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Exaltação

Vejo uma imagem que mostra o Terreiro do Paço inundado de gente numa demonstração de protesto contra a austeridade. Aconteceu no sábado dia 29 de Setembro. Como sempre, imagens como esta emocionam-me, imagens de gente que por algumas horas se une com um propósito comum e se sente parte de um todo, mesmo que seja de um todo sofrido. Há um sentimento de união, de partilha e também de alento. Por algumas horas sente-se que é possível o que quer que seja que se procura, que se deseja. Contudo, dura apenas algumas horas porque trata-se apenas e tão só de uma exaltação. Nós os portugueses somos dados a exaltações, deixamo-nos arrebatar pelo calor do momento e nesses momentos vivemos uma eternidade. É como nos reencontros de família ou de colegas em que se promete que nunca mais se voltará a estar tanto tempo sem dar notícias. É como nas promessas que se fazem de" nunca mais" ou "para sempre". Há um absoluto na exaltação que torna impossível a sua manutenção sustentada, seja a nível pessoal seja a nível colectivo. As exaltações são estados bons mas não podem funcionar como o contraponto duma dormência continuada em que a união e o propósito comum são obliterados. A nível individual significa vivermos parcialmente, sem escutarmos as nossas diferentes vozes, os nossos diferentes sentires. Cada parte a puxar para o seu lado e esperando "que seja o que Deus quiser". Colectivamente o fenómeno é o mesmo. Contudo, os momentos de exaltação permitem ver que é possível fazer diferente! Só têm que ser integrados no sistema com carinho e persistência. Deste modo, o calor do momento poderá transformar-se num fogo mais permanente que alimente mais continuadamente as psiques e os povos.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Acreditar

Uma das perguntas que oiço com frequência é se acredito em algo em particular ou em algo mais abstracto, ou seja, se tenho alguma crença num Deus que nos governe.
Confesso que é uma pergunta que tem o condão de me irritar, porque raramente é feita com o intuito da descoberta pura dos "santos do meu altar". Ora vem carregada de escárnio, como se fosse a maior ridicularia acreditar naquilo sobre o qual sou no momento questionada, ora vem carregada com a certeza da minha crença, como se fosse absurdo não acreditar naquilo sobre o qual me questionam.
Qualquer uma destas formas de questionamento dificilmente conduz a uma conversa esclarecedora, quer seja pela má vontade que induzem à minha resposta, quer seja pela falta de interesse de quem pergunta numa resposta que não confirme aquilo em que já acredita.
Ao contrário de São Tomé, não preciso de ver ou de tocar para acreditar mas preciso de ser tocada para poder acreditar. E há coisas que me tocam profundamente, coisas como o amor, a coragem, a beleza, a fraternidade. Ao ser tocada por elas eu sei com todo o meu ser que existem e acredito. Acredito nelas e no seu poder de união, transformação e elevação. Estas são as coisas boas. Numa visão maniqueísta, existem também as coisas más ou se assim o quisermos existe o bem e o mal e eu acredito no engenho do mal porque também já o experienciei. Se tomarmos Deus e o Diabo como bastiões do Bem e do Mal na esmagadora maioria das tradições religiosas e espirituais, embora sob outras formas, então eu acredito em Deus e no Diabo porque já os experienciei. Se são realidades internas ou externas? Não sei. Mas acredito.

domingo, 23 de setembro de 2012

O sentido

Sentido da Vida ou sentido para a Vida? O primeiro, tem um carácter mais afirmativo e quase pressupõe a sua existência, seja ele qual for; o segundo, tem um carácter mais interrogativo e invoca mais uma demanda.
Quer a vida tenha sentido ou nós o procuremos, fazer sentido é um dos aspectos fundamentais da nossa existência, pois quando algo faz sentido na nossa vida, a Vida faz sentido. É como encaixar uma peça num puzzle: de repente, ligações que não pareciam possíveis acontecem e a consciência expande-se permitindo com isso novas possibilidades.
"Faz sentido?" é uma das perguntas que coloco com frequência a mim e a quem me rodeia. Quando algo faz sentido vai para além da compreensão intelectual, vai para a além da emoção provocada pelo entendimento. É algo que é "sentido nos ossos", uma espécie de reconhecimento, de reminiscência, de algo que "é". Pelo menos "é" naquele momento até que outro sentido o venha abarcar.
E não parece fazer diferença, que o sentido que experienciamos seja o sentido da Vida ou um sentido para a vida. Fazer sentido parece ser algo que se repercute no ser. Uma espécie de farol, que quer seja real ou imaginário, num esforço de manter à distância o desespero resultante duma existência sem sentido, é fundamental. A mim, neste momento, faz-me sentido partilhar as minhas reflexões.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Anamnese

Anamnese é uma palavra de origem grega que significa recordação. Este significado quando aplicado à filosofia, religião ou medicina muda ligeiramente de sentido. Neste espaço, o seu significado está sobretudo relacionado com aquele que é usado na prática clínica: relembrar todos os factos pertinentes para o assunto em questão, ou se assim o quisermos para a história entre mãos.
Assim sendo, este espaço surge com a pretensão não só de contar como também de reflectir sobre histórias e por vezes sobre a História. Estas reflexões terão sempre um carácter psicológico numa tentativa de compreensão das motivações por detrás das histórias que nos acontecem e que nós fazemos acontecer.
O carácter psicológico destas reflexões procura ter um cariz abrangente da realidade, ou se assim o quisermos, uma visão integral. Uma das teorias que se lhe encontra subjacente dá pelo nome de Psicossíntese.
Contudo, a realidade é mais complexa e misteriosa do que qualquer teoria e é por isso que este espaço estará aberto a comentários de todos aqueles que pretendam dar o seu contributo na construcção de novas histórias.
Finalmente, o objectivo deste espaço é contribuir para a expansão da consciência num movimento de integração e síntese.